domingo, 31 de março de 2013

Sobre violência obstétrica

Quando tive um aborto ás 13 semanas de gestação fiquei internada por 6 dias no Hospital São Luiz, unidade Anália Franco em SP. Tive que "induzir o parto", no meu caso uma curetagem traria riscos pois a parte óssea do bebê já estava formada, descobri que o coração do bebê não estava batendo um dia depois do Natal e logo após a ultra que soube que o bebê não estava vivo, pedi para ser internada e fazer a indução, como eu já estava com a barriga bem grande para o período não queria ficar sofrendo com o bebê sem vida dentro de mim.
Pois bem, aí começa o descaso que sofri durante os 6 dias em que estive internada...
Logo que dei entrada no Hospital, eu EXIGI um ultrassom pois queria ver mesmo se o bebê estava sem batimentos (minha última esperança), como não era ROTINA, a médica (a quem chamarei de grosseira) relutou em me encaminhar ao exame, pois eu estava com o laudo do laboratório. No retorno após o ultrassom (fiquei esperando por mais de 1 hora) o outro médico (a quem chamarei de bom coração) pediu minha internação e já prescreveu a rotina até minha alta, pois como eu moro em outra cidade e meu obstetra não podia me acompanhar ele compadecido da situação decidiu ajudar... Esta rotina incluiu o uso de Misoprostol (Cytotec) a cada 6 horas, acesso venoso para soro (se não me engano eram 4 ou 5 bolsas de 1/2 litro por dia), buscopan para dores e algumas análises clínicas.
Logo após ser internada a enfermeira da obtetrícia (que era em outro andar) veio administrar o Misoprostol (via vaginal) e a enfermeira do andar veio fazer o acesso venoso, como minha mãe foi providenciar camisolas e objetos de uso pessoal passei a noite sozinha e após fortes contrações chamei a enfermeira (um enfermeiro atendeu ao interfone e disse que logo iria) mas a enfermeira demorou 4 horas para ir a meu quarto e só foi depois de eu levantar com vertigens e pedir ajuda para a acompanhante de um senhor que estava no quarto ao lado.
No outro dia, já com meu marido, minha mãe e minha irmã, uma médica (plantonista, já que o bom coração estaria de folga durante os outros dias) foi fazer a visita de ROTINA, fez um toque e disse que eu estava sem nenhuma contração, ao ser questionada por minha mãe se era necessário um ultrassom ela disse que NÃO e que ela sabia de toda a rotina nestes casos...
Passou um dia, coloca o comprimido, faz o toque, troca o soro dá remédio e vai embora, passa outro dia coloca o comprimido, faz o toque, troca o soro dá remédio e vai embora, mais um dia coloca o comprimido, faz o toque, troca o soro dá remédio e vai embora...
E todos os dias eu quase implorava por um ultrassom pois queria saber a quantas andava o "trabalho de parto" e nada do ultrassom...
Fui esquecida no andar, esqueceram de colocar o comprimido duas vezes, a cada toque uma nova pessoa, a cada pessoa aumentava o sentimento de desrespeito...
No dia 31 de Dezembro, resolvi dar um "show" (pois estava bem passiva até então, não aceitei nehum calmante) acho que já começava a voltar a mim e CHOREI por um ultrassom, meu marido GRITOU com a médica e ela resolveu FAZENDO POUCO CASO, que se era um ultrassom que me impediria de passar o Reveillon ali que ele fosse feito (lágrimas me vem aos olhos quando me lembro dessa parte) e no ultrassom já não havia nada, nenhum pedacinho do bebê... Eu tive um filho sem saber quando, e NINGUÉM percebeu... Em todos os toques me diziam estar com o colo fechado e grosso, alegaram estar assim devido o Ultrogestan que eu estava usado para prevenir mais um aborto (sim este é o meu segundo aborto).
Depois do ultrassom uma médica veio dar alta e quis saber meu fator Rh, mesmo eu informando que era positivo e apresentando TODOS os exames que fiz no Pré Natal e meu cartão de gestante ela me pediu o exame e postergou por mais 5h, minha alta. Quando fomos perguntar sobre o exame o plantão havia mudado, a médica tinha ido embora e o resultado sumido... Me deseperei e gritei no corredor, chorei como nunca havia chorado e me senti a pior das criaturas, pois além de não ser capaz de poder gerar a vida que havia em meu ventre eu estava sendo jogada de um lado para outro. Neste momento a apareceu outro médico (carinhosamente apelidado por mim de FDP) veio gritar comigo e meu marido, me lembro de ele dizer que não era CULPA dele e sim nossa e dos outros colegas dele, falou absurdos que não consigo me lembrar e me desrespeitou como mulher quando disse que me eu não sabia da dor de perder um filho...
Me deu a alta, achou o exame (escrito a caneta) me deu mais 8 dias de licença e quando a enfermeira veio finalmente tirar meus acessos ela que trouxe tudo, o CORAJOSO tinha sumido do andar...
Descrevo hoje pela primeira vez tudo o que me aconteceu depois de ler sobre violência obstétrica no site: http://www.dadada.com.br/ onde ricamente é falado sobre os partos e eu quis falar sobre a violência em um momento de fragilidade...
Hoje fazem 3 meses do ocorrido,  como já disse aqui ainda dói e eu resolvi falar sobre isso para poder ilustrar que a violência obstétrica se estende há vários aspectos durante a vida reprodutiva, queria poder falar e alertar a todas as tentantes assim como eu que também sofrem com abortos de repetição a tomarem suas precauções.

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